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  Audiência Pública faz raio-X da saúde cardiovascular e torácica pelo SUS na Bahia

13/07/2010

Os números são incontestáveis. De acordo com a Portaria 210 de 2004 do Ministério da Saúde, para cada 4 milhões de habitantes é necessário 1 centro de referência em cirurgia cardiovascular. Na Bahia com seus mais de 14 milhões de habitantes deveriam ter pelo menos três. Atualmente existem dois, mas que não funcionam plenamente. Outra recomendação seria a cerca do número de serviços de assistência em cirurgia cardiovascular onde, de acordo com a mesma portaria, deveria ser em número de 23. Os baianos contam apenas com 5. A deficiência também diz respeito a serviços de assistência em cirurgia cardiovascular pediátrica. Em todo o estado são apenas 2, bem longe dos 17 recomendados pelo ministério.

Enquanto a Bahia orgulha-se ter ser o quarto estado brasileiro em número de habitantes, 85% da população que depende do Sistema Único de Saúde (SUS) amargam a décima oitava posição no ranking das cirurgias cardiovasculares no país, onde o tempo de espera chega a trinta meses. Atualmente, cerca de 1800 pessoas convivem com a esperança de um dia conseguir o tratamento cirúrgico, mas nem todos resistem à angustiante espera. O pai do lavrador Edvan Gomes de Oliveira não resistiu, após um ano e dois meses na fila para uma cirurgia de revascularização do miocárdio. “Eu vi meu pai morrer agonizando. E os médicos me garantiram que se ele tivesse operado viveria pelo menos mais vinte anos. Hoje eu convivo com a saudade e a dor de não ter podido fazer nada”, lamenta.

Desânimo também para os médicos que acompanham essa árdua trajetória. Por diversas vezes, quando tentam entrar em contato com o paciente para, enfim, marcar a cirurgia, são surpreendidos com a notícia do falecimento. “Eu já cheguei a sair do hospital com lágrima nos olhos, sem realizar uma cirurgia sequer”, revela o cirurgião cardiovascular Dr. Leonardo Barreto.

Os números das cirurgias torácicas não amenizam a situação. Pelo contrário, além da imensa fila para tratamento cirúrgico, nas urgências e emergências credenciadas aos SUS, em todo o estado, não existe cirurgião torácico de sobreaviso. (Um risco diante da grande incidência de pessoas que morrem de politrauma, que chega a 48% dos óbitos no país). As estatísticas demonstram que das mortes causadas por trauma, que representa 48% dos atendimentos de emegência, 25% são decorrentes de trauma torácico. Outro grave problema está relacionado ao câncer de pulmão. Pacientes esperam até 18 meses para a retirada do tumor, perdendo o melhor momento de tratar a doença. “Várias vezes constatamos que o paciente deixa de ter a janela de cura. Uma situação de agravamento do estado clínico.”, salienta Dr. Antonio Penna, cirurgião torácico e presidente da Cooperativa dos Cirurgiões Cardiovasculares ou Torácicos do Estado da Bahia (Cardiotórax).

Atrelado ao problema de infra estrutura está a defasagem na remuneração desses profissionais. O pagamento a uma equipe cirúrgica para realizar uma revascularização do miocárdio pelo SUS, por exemplo, é, em média, R$ 900,00, após as deduções fiscais e despesas administrativas de manutenção da equipe, restam apenas R$ 170,00 para cada cirurgião cardiovascular.

Na cirurgia torácica a realidade ainda é mais impactante, pois apenas as cirurgias oncológicas alcançam os valores de uma revascularização do miocárdio. Os demais procedimentos, mesmo os de grande porte, são remunerados por valores tão baixos que muitas vezes os cirurgiões recebem menos de R$ 50,00 por um procedimento.

Esse levantamento foi apresentado durante a Audiência Pública realizada pela diretoria da Cardiotórax, dia 12 de julho de 2010, na Associação Bahiana de Medicina (ABM). A iniciativa faz parte do movimento que começou em setembro do ano passado quando os cirurgiões das duas especialidades decidiram cobrar mudanças estruturais na saúde do estado. Neste período, o secretário Dr. Jorge Solla solicitou uma proposta concreta de um plano de ação.

A Cardiotórax contratou uma consultoria especializada em Saúde Pública para elaborar um projeto que contemplasse não só a questão dos honorários médicos, como também a ampliação da assistência na Bahia assumindo os custos pela elaboração. O projeto foi apresentado aos dirigentes da SESAB, no dia 19 de maio de 2010. Até a dada de realização da audiência não houve manifestação da secretaria.

Participaram do encontro o diretor presidente da Cardiotórax, Dr. Antonio Penna, o diretor administrativo, Dr. Sidnei Nardeli, o diretor comercial, Dr. Helmgton Souza, Dr. Carlos Eduardo Aragão Araujo, representando o Conselho Regional de Medicina, Dr. Marco Aurélio Oliveira Guerra, representando a Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Estado da Bahia (COOPANEST-BA) além outros membros da diretoria da Cardiotórax, cooperados, diretores de hospitais, médicos e representantes de pacientes.

“Estamos agindo de forma muito consciente pautados na transparência com o intuito de evitar a suspensão dos serviços, porém não vemos alternativa caso não haja uma manifestação ao nosso pleito. Apresentamos um projeto muito bem elaborado, dando todas as informações necessárias para resolver o problema das cirurgias cardiovasculares e torácicas no estado a curto, médio e longo prazo”, finaliza Dr. Penna.

Assessoria de Comunicação Cardiotórax

Cinthya Brandão

DRT/Ba 2.397

 
 




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